Aquarela Brasileira não é pra uso em delírio antidemocrático

Marcando em cima, Império serrano já mostra seu posicionamento.

Viram que o vexame ato pró-biroliro teve gado cantando Aquarela Brasileira? Isso está errado em muitos níveis e eu vou explicar o porquê de forma bem sucinta. Rapidamente, o perfil do Império Serrano (de onde a canção é originária. Salve, Silas de Oliveira!) se manifestou com nota de repúdio no Twitter.

O Império Serrano (minha amada escola, não sei se já disse. Rá!) é uma agremiação que nasceu de um ato antiautoritarismo. Pra resumir, havia um presidente – que viria a ser sogro de Dona Ivone Lara –  que agia feito dono da escola Prazer da Serrinha. E, por causa de uma arbitrariedade do mesmo, dissidentes fundaram o Império Serrano.

Ou seja, minha escola é, necessariamente, fruto de um ato pró-democracia. Apesar do imponente e monárquico nome, o Império é fundamentado na democracia, respeito e dignidade. Não faltam sambas que ilustram muito bem essa identidade. Cito aqui: Heróis da Liberdade (1969), que já mencionei aqui, Eu Quero (1986) e Verás que Um Filho Teu Não Foge à Luta (1996), também conhecido como “o samba do Betinho” (em homenagem a Herbert de Sousa, fundador da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida).

No primeiro Samba que falei no parágrafo anterior, fala-se em liberdade e grupos inteiros na luta pelo fim da escravidão que foram omitidos pelos livros de história tradicionais. Isso em plena ditadura, quando a exigência de se falar bem da romantizada capitania colonizada era ameaçadora. No seguinte, a letra é diretamente um recado aos arquitetos da ditadura, um ano após a abertura do estado democrático. Fala em querer direitos constitucionais básicos e cobra pelos 20 anos de repressão. E, no terceiro, outro hino que temos em verde e branco, pede-se, novamente, mais justiça e dignidade para o povo.

Então, minha gente, não é só feia essa apropriação de um dos maiores hinos do cancioneiro popular, como é também sem sentido. Não que a letra de Aquarela Brasileira possua alguma menção política, mas sendo do mesmo autor de Heróis da Liberdade, fica estranho, né? Pra mim, é como a pessoa querer usar alguma música romântica do Gonzaguinha, porque não sabe que o cara era totalmente a favor da democracia. Mas aí, problema deles. Vão cantar Sérgio Reis ou Zezé di Camargo e deixem meu Império em paz.

Sobre Fernando Sagatiba

Sou Fernando Garcia, o Sagatiba. Carioca, sambista, músico e jornalista. Amante de cultura pop e manifestações culturais e a sociologia do mundo em que vivemos. E apaixonado por Madureira, sobretudo, meu glorioso Império Serrano.
Esse post foi publicado em Falando Nisso... e marcado , , . Guardar link permanente.

Deixe um comentário