Em homenagem a Monarco, Prefeitura do Rio de Janeiro muda nome do Parque Madureira. 

Em homenagem a Hildemar Diniz, o Monarco, da Portela, Prefeitura do Rio de Janeiro decidiu mudar o nome da terceira maior área de lazer do Rio, o lugar que passará a se chamar Parque Madureira Mestre Monarco, lugar que tanto se apresentou.

O decreto foi publicado no Diário Oficial do município evidenciar a já imensa importância do baluarte e presidente de honra da Portela. Um dia antes da partida do artista, ele também virou nome da sala de troféus da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira.

A decisão, partida do portelense, prefeito Eduardo Paes, ainda ilustra o documento com um verso de Monarco, que diz que se for falar de Portela, não vai terminar (letra de Passado de Glória).

Nada mais justo, né, gente. O mestre tanto significa para a região – e cultura em geral – que ser eternizado em mais este elemento do subúrbio, cultura e lazer chega a ser um carinho também nos fãs, independente de que escola você faz parte.

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Jorge Aragão recebe alta médica e já prepara lançamento com o Grupo Arruda

Após um mal estar, na última terça-feira, Jorge Aragão passou três dias internado no hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, para uma bateria de exames e ficar sob observação. Dada a alta, médica, na manhã da última sexta (12/11), o Poeta do Samba revelou ao jornal Extra a vontade de retomar a agenda em breve.

Continuo on. Estou me sentindo um gato, velho, mas um gato e já pronto para a batalha o mais rápido possível.”, descontraiu.

E o sambista falou sério, pois já na próxima sexta (19/11), ele lança ‘Poder é Pele Preta’, com o Grupo Arruda. A data e o tema da canção são bem apropriados, vindo de quem tem em seu vasto repertório, gravações como ‘Pretro Cor Preta’ e o clássico ‘Identidade’.

Além de eles serem muito bons no que fazem e eu já conhecer o trabalho do grupo, a música e o tema me interessam. E já avisei a eles: sempre que forem falar sobre a nossa causa podem contar comigo!“, afirma o cantor.

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Aquarela Brasileira não é pra uso em delírio antidemocrático

Marcando em cima, Império serrano já mostra seu posicionamento.

Viram que o vexame ato pró-biroliro teve gado cantando Aquarela Brasileira? Isso está errado em muitos níveis e eu vou explicar o porquê de forma bem sucinta. Rapidamente, o perfil do Império Serrano (de onde a canção é originária. Salve, Silas de Oliveira!) se manifestou com nota de repúdio no Twitter.

O Império Serrano (minha amada escola, não sei se já disse. Rá!) é uma agremiação que nasceu de um ato antiautoritarismo. Pra resumir, havia um presidente – que viria a ser sogro de Dona Ivone Lara –  que agia feito dono da escola Prazer da Serrinha. E, por causa de uma arbitrariedade do mesmo, dissidentes fundaram o Império Serrano.

Ou seja, minha escola é, necessariamente, fruto de um ato pró-democracia. Apesar do imponente e monárquico nome, o Império é fundamentado na democracia, respeito e dignidade. Não faltam sambas que ilustram muito bem essa identidade. Cito aqui: Heróis da Liberdade (1969), que já mencionei aqui, Eu Quero (1986) e Verás que Um Filho Teu Não Foge à Luta (1996), também conhecido como “o samba do Betinho” (em homenagem a Herbert de Sousa, fundador da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida).

No primeiro Samba que falei no parágrafo anterior, fala-se em liberdade e grupos inteiros na luta pelo fim da escravidão que foram omitidos pelos livros de história tradicionais. Isso em plena ditadura, quando a exigência de se falar bem da romantizada capitania colonizada era ameaçadora. No seguinte, a letra é diretamente um recado aos arquitetos da ditadura, um ano após a abertura do estado democrático. Fala em querer direitos constitucionais básicos e cobra pelos 20 anos de repressão. E, no terceiro, outro hino que temos em verde e branco, pede-se, novamente, mais justiça e dignidade para o povo.

Então, minha gente, não é só feia essa apropriação de um dos maiores hinos do cancioneiro popular, como é também sem sentido. Não que a letra de Aquarela Brasileira possua alguma menção política, mas sendo do mesmo autor de Heróis da Liberdade, fica estranho, né? Pra mim, é como a pessoa querer usar alguma música romântica do Gonzaguinha, porque não sabe que o cara era totalmente a favor da democracia. Mas aí, problema deles. Vão cantar Sérgio Reis ou Zezé di Camargo e deixem meu Império em paz.

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Vitrola de Ficha: Precipício e a profunda poesia de vida de Beto Sem Braço

Laudenir Casemiro – nome verdadeiro do essencial Beto Sem Braço – foi um poeta dos mais autênticos e diferenciados no sentido de estilo. Afinal, o compositor era um tanto controverso pelos lugares e pessoas a que referenciava em sua obra e vida. E sobre um recorte específico, eu tenho algo pra falar. Seria muito fácil falar em como sua poesia era cotidiana e suburbana, bastando lançar links e mais links aqui de suas letras e músicas, mas sobre uma em especial, eu preciso esmiuçar sua história pontual e significado universal. Você já viu pelo título: Precipício.

Lançado em 1988, o LP Sorriso Aberto, de Jovelina Pérola Negra, chegou quente em nossas mãos, pela mão da gravadora RGE (na verdade, absorvida como um selo da Som Livre – Grupo Globo). E nele, além do clássico absoluto Sorriso Aberto (samba aqui, samba ali, samba lá, láááááá laia laia laia…), tivemos Precipício que, assim como todas as outras, não foram tão trabalhadas ou reconhecidas na mídia da época. Sendo literalmente um ‘lado B’ da carreira da pastora imperiana. Saca, aquelas músicas que quem é do meio sabe, mas um leigo que não ouviu o disco inteiro não tem como conhecer.

Mas sempre lembrada por quem vive o Samba, se tornou uma das tantas músicas desconhecidas até por muita gente do Samba. Aí, entra o Samba na Serrinha e sua iniciativa de resgatar sambas do underground, predominantemente dos baluartes imperianos. Imperiano é a definição desse samba, aliás. Composto por Beto Sem Braço e gravado por Jovelina, ambos talentos incontestáveis que já passaram por nossas fileiras imperiais. E quem me contou a história por trás da composição, foi Cizinho, ex-mestre-sala da escola, atual membro da Velha Guarda. E no Morro da Serrinha, em conversa sobre nosso glorioso Império Serrano. Pescou a referência? Rá!

Mas vamos lá. Contou-me Cizinho que Beto fez a música como uma espécie de chamada de atenção do compositor a Escadinha, traficante que ficou famoso por sua fuga cinematográfica de helicóptero do antigo presídio da Ilha Grande. Acontece que na fuga, o parceiro de Escadinha, Meio-Quilo, tentou ir junto, pendurado por fora do veículo, sendo alvejado por um tiro, caiu. Daí o refrão “Se eu quiser me jogar do precipício, você deixa?”. Tendeu? É uma pergunta retórica a um conhecido seu sobre como ele deixou um amigo em situação de perigo. Mas a letra até começa com a premissa da tentativa de fuga e morte de um traficante, mas os versos de Beto são, como sempre, muito mais abrangentes. Vejamos:

“São Pedro abriu a porta e fez chover

Uma tromba d’água caiu

Pingos grossos foram pêsames

Por um dos nossos que partiu

Derramaram tantas lagrimas foram tantas lágrimas

Muitas lágrimas

Daquela covardia que se viu”

Já no começo, é feito um comparativo entre a dor da perda com uma tromba d’água e a afirmação de que o que aconteceu foi uma covardia.

“Se ligue na convivência dos animais irracionais

Na vivência dos racionais

Cão e gato estão se beijando

Gato e rato brincando no porão

Garnisé criou força no gogó

E amigo do galo esporão

Os homens não se entendem

Se entendessem como seria bom

Mas não há respeito ao semelhante

E pouco amor no coração”

Aqui, acho que é a parte mais universal da letra. Pense na grandeza de quem compara um comportamento atípico de animais folcloricamente antagônicos ao ser humano em busca de uma boa convivência. Pô, se todo ser humano pensasse em cuidar do bem-estar do próximo como um cão de um gato, por exemplo, não haveria desavenças nem sofrimento no mundo. Né non?

“Se eu quiser me jogar no precipício

Você deixa

Ah, você deixa

Tens é que travar os meus impulsos

E depois não importa a queixa

Se um terceiro diferentemente vê

Jamais contigo fecha”

Essa é a parte do tal esporro de Beto pra cima do Escadinha. Se você é amigo de alguém, você deixa a pessoa fazer uma besteira dessas? Ele deixa claro que se você é amigo de alguém, não deixa a pessoa se colocar em apuros, mesmo que o amigo não queira aceitar a argumentação. E se alguém de fora achar errado impedir o amigo que vai fazer besteira, esse de fora que não é amigo mesmo.

“Um besouro voou no espaço e caiu

Sei lá quem mandou (sei lá)

Sei lá quem mandou (sei lá)

Mas alguém mandou (sei lá)

Olha lá quem mandou

Inocentemente o vento entrou

Na dança desta dor”

Evidentemente que o besouro que voou, mas caiu é o parceiro baleado e morto. Então, a poesia de Beto diz que alguém mais foi responsável por isso e, por um acaso, o ar colaborou sem intenção. Afinal, o vento está aí, cai quem quer. Brinqs! Ele apenas deixa estabelecido que teve um responsável que deveria ter tomado outra atitude pra evitar a tragédia.

“Quem entra no circo por baixo da lona

Só pode, só pode se dar mal

Mas, agora que a vaca foi pro brejo

Se perdeu no lamaçal

Os tropeiros perderam a rédea

Pra mim, não foi legal”

E ele arremata dizendo que em certas situações, dá pra antecipar uma catástrofe chegando, mas depois que acontece, é se conformar, mesmo a contragosto. Tipo, não adianta reclamar e dizer “eu avisei”, que a desgraça já está feita.

“Ai ai ai auê

Ai ai ai auê

Ai ai ai auêêêê

São Pedro abriu a porta e fez chover”

É isso, rapeize, a despeito da criminalidade envolvida nos “atores sociais” abordados na canção de Beto Sem Braço, a letra diz com analogias bem corriqueiras sobre uma grande questão da vida e que falta muito à sociedade: O amor ao próximo. Pode parecer piegas, mas esquecemos de cuidar do próximo no dia-a-dia e num descuido, pode acontecer algo ruim e ser tarde demais pra dizer que se importa. Olha quanta reflexão em frases, pra quem não conhece o contexto, aleatórias sobre coisas do cotidiano e a natureza. Daí a genialidade do artista.

Sem mais. Vou só deixar a canção no link abaixo, porque não ouvir de novo depois de estudar a música é até covardia. Rá!²

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Império Serrano acolhe pessoas em situação de rua durante o frio

Deu na coluna do Ancelmo Góes, d’O Globo, em 09/08:

** O presidente do Império Serrano, Sandro Avelar, e a secretária municipal de Assistência Social, Laura Carneiro, acertaram que a escola de samba se transformará em abrigo para a população em situação de rua se proteger do frio, a partir da segunda-feira. O jantar e o café da manhã serão preparados pelas baianas da escola. **

E é isso, né, gente? Fazendo a parte que cabe, que é possível pelas pessoas, porque se o frio é cruel, imagine esse ano que o termômetro tem chocado até quem gosta ou está acostumado a lugares frios.

Então, agasalhos e cobertores e até sopas são muito bem vindos, mas um teto que seja, já é bem melhor que a rua. Já que a quadra está lá podendo ser utilizada pra uma causa tão digna, tão nobre, nada mais admirável do que demonstrar tanto amor ao próximo.

Como disse a rainha, Quitéria Chagas, em seu instagram: “Orgulho máximo” pela administração da nossa escola por tal acolhimento de quem mais precisa. Essa chama que o ódio não apaga.

Fonte: O Globo

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Dona Ivone Lara ganhará estátua de bronze no Rio de Janeiro

A grande dama do Brasil e do mundo. Dona Ivone merece todas as homenagens.

Dona Ivone Lara ganhará estátua de bronze no Rio de Janeiro. Trata-se do projeto Estátua de brilho, promovido pela universidade Estácio de Sá, que ao inaugurar o novo campus Maracanã, homenageará 3 figuras tijucanas de reconhecimento notório. A votação era entre Dona Ivone Lara, Aldir Blanc e Gonzaguinha. A mais votada, Dona Ivone, ganhará estátua próxima ao campus, já os outros dois tijucanos ilustres, Aldir e Gonzaguinha, darão nomes à sala de audiovisual e ao auditório, respectivamente.

A escolha foi aberta aos internautas através de votação no blog da instituição de ensino e será inaugurada em outubro, quando o campus passa a funcionar. Mas a homenagem de apresentação ao público mesmo, vai ser dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Sugestivo, não? Aliás, só não é mais sugestivo porque não foi marcado pra 13 de abril, dia do nascimento de Dona Ivone e motivo de ser, no calendário oficial, o Dia da Mulher Sambista.

Dona Ivone, que já ganhou placa na Calçada do Samba, no Baródromo, além do já mencionado Dia da Mulher Sambista (as duas homenagens em 2019), foi a primeira mulher a integrar uma ala de escola de samba (no meu glorioso Império Serrano, escola da paixão da grande dama) e nos deixou uma obra vasta na música, na saúde e na vida.

Pra finalizar e mostrar que a vida não é só desgraça, fique aí com uma joia rara da grande Dona Ivone Lara.

Poucas são as declarações ao Samba de forma tão intensa. Lindeza demais.
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Nei Lopes recebe título de Doutor Honoris Causa da UFRJ

A Faculdade Nacional de Direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) aprovou, nesta quarta-feira (28); por unanimidade, a concessão do título Doutor Honoris Causa a Nei Lopes. Uma semana antes, a mesma indicação havia sido vetada. A questão formal seria o fato de que Nei, apesar de formado justamente na universidade – e em Direito – apesar de vasta carreira como compositor e escritor, não teria tanta atuação técnica e efetivamente no Direito.

Nesse primeiro momento, o intelectual disse: “Meu trabalho como compositor e escritor tem como razão principal minha condição de cidadão afrodescendente. Quando tive a notícia da recusa, fiquei triste. Mas, logo em seguida, a relatora do processo me enviou uma longa mensagem me pedindo desculpas. Ela, inclusive, declarou-se conhecedora da minha obra e disse que foi levada a erro pelos propositores da homenagem.

Com a situação positivamente (e porque não dizer, afirmativamente, rá), a professora de Direito Penal e Criminologia da UFRJ, Luciana Boiteaux, disse, no Twitter: “Por uma questão formal, o pedido não havia tido quórum para aprovação na última reunião da Congregação, mas graças à mobilização e ao esforço da relatora, Prof. Ana Sabadell, que reconsiderou seu voto, o pedido foi aprovado com louvor”. O processo segue, agora, para o Conselho Universitário da UFRJ.

O juiz André Nicolitt, doutor em Direito e professor da Faculdade de Direito da UFF, também havia criticado a avaliação da faculdade como excessivamente técnica, sendo criteriosa demais com termos e palavras, virando as costas para o lado social: “O argumento da rejeição reforça uma visão de um Direito fechado em si, um tecnicismo incompatível com as exigências da nossa sociedade complexa, que necessita cada vez mais de interdisciplinaridade e atravessamento de saberes. Por que o Direito não pode beber nos saberes sobre a África, da realidade do subúrbio, da literatura?  A África e a questão racial estão no centro de todos os problemas do Brasil. Nei Lopes, como pesquisador desses temas, é imprescindível para o Brasil, é um patrimônio nosso”.

Presidente do Instituto Luiz Gama, o professor, escritor e advogado, Silvio Almeida acrescentou, em seu twitter: “Em sua obra que inclui mais de 37 livros e muitas composições, Nei Lopes inscreve-se no rol dos grandes nomes do pensamento social brasileiro, com contribuições na arte, na filosofia, nas ciências sociais e na história”. Isso explica bem o conceito de honoris causa, visto que além do intelectual que é, Nei já foi dirigente da G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel e G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro. Gravado por praticamente todos os grandes nomes da música brasileira, a obra dele é um daqueles patamares difíceis de se alcançar.

O título, que é uma espécie de doutorado simbólico a quem tenha extrapolado fronteiras da própria área de atuação e de alcance igualmente amplo e significativo, é o reconhecimento a quem tenha contribuído – ou venha contribuindo – com trabalhos que enriqueçam o saber e a evolução da sociedade da qual faça parte. A exemplo de Nei, também já foram condecorados por seus feitos: Paulo Freire, Joaquim Barbosa, Elza Soares, Carolina Maria de Jesus, Oprah Winfrey, Chacrinha, Chaplin, Muhammad Ali e Einstein, entre muitos outros. Panteão pra ninguém botar defeito, né não? Enfim, merecidamente o título contempla um escritor tão interessado em transmitir uma cultura que ancestralmente, não era repassada de forma escrita ou gravada. Os nossos vão ter um acervo e tanto que temos visto sendo construído.

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Grupo sensação: Oyá (Canto de Oração)

Se parar pra analisar direitinho o cancioneiro popular, vamos achar músicas de diversas épocas diferentes e que fazem sentido em diversos momentos que não os da composição. Eu poderia citar Perfeição (Legião Urbana) ou Apesar de Você (Chico Buarque) pra descrever o atual momento da sociedade, mesmo que estejamos em 2021 e a primeira seja cria dos anos de 1990 e a segunda, ainda dos 1970. Mas vou me ater a Oyá, por hora.

A questão é que essa é atual como as supracitadas – e muitas outras, to ligado – mas tem frases muito certeiras pra se pensar apenas que se aproximou da realidade de hoje. Ela é quase um ‘meu querido diário’ do que está acontecendo. E foi numa participação de Marquinhos Sensação na live de Teresa Cristina que me deu esse estalo. Tanto pela letra quanto pelo engajamento da cantora, essa letra me despertou essa consciência. Porque sem tocar ou frequentar as rodas, a gente meio que enferruja, né?

Então, sem delongas, neste segundo ano de pandemia, vamos esmiuçar a letra da composição de Carica e Prateado.

Oyá

É o povo de cá pedindo pra não sofrer

Essa parte não é novidade, isso se repete desde que o primeiro portuga pisou aqui. Prossigamos

Nossa gente ilhada precisa sobreviver

Ilhada, isolada, distanciada, confinada… Você escolhe o que mais lhe identificar.

E levantam-se as mãos pedindo pra Deus olhar

Essa parte eu jurava que era “pra Deus, Oyá”, mas op sentido é o mesmo que complementa o primeiro verso.

Já não se vive sem farinha e pirão não há

Voltamos ao mapa da fome, recentemente, e com a pandemia, isso só se agravou.

Não haveria motivos pra gente desanimar

Se houvesse remédio pra gente remediar

O pior é que existe remédio, chamado VACINA, mas que o governo recusou pra imunizar seu povo, inclusive a parcela que o elegeu.

Já vai longe a procura da cura que vai chegar

A procura da cura até vai longe, mas, reforçando o verso anterior, a prevenção existe há meses e se chama VACINA, que o governo recusou mais de 10 vezes.

Lá no céu de Brasília estrelas irão cair

Aqui você pode interpretar que quem se acha grande astro, está decaindo a cada dia na aprovação popular. E não é sem razão. Ô…

E a poeira de tanta sujeira há de subir

Subir, emergir, descobrir… fique com a metáfora que mais te apetece.

Oya

Será que a força da fé que carrega nosso viver

Pode mover montanhas e jogar dentro do mar

A fé é a democracia e a montanha é esse governo pandêmico que já tava cerceando direitos trabalhistas e previdenciários e dando dinheiro em troca de apoio no congresso, muito antes da doença.

Tanta gente de bem que só tem mal pra dar

Tipo aquela galera que se diz defensora da família tradicional brasileira e usa até bíblia pra destilar ódio ao diferente, porque considera o diferente pecado, mas defende até criminoso se for da mesma denominação religiosa, fala de deus e comete atrocidades na encolha.

Será que a força da fé que carrega nosso viver

Pode mover montanhas pra gente poder passar

A fé é a vacina, a cura e as montanhas são as ondas da doença que desintegram famílias.

É a nossa oração pedindo pra Deus

Oyá

A revelação de que esta letra é mais que um apelo desesperado por tempos melhores, mas uma oração à deusa dos ventos, movimentos e transformações (da qual sou filho orgulhoso).

Então é isso, se você se identificou com o apelo, tamo junte e se você achou o texto tendencioso, deve ser gado. Pro gado, só digo bem feito, eu avisei. Pros demais, sigamos orando, calçados na fé.

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Música para relaxar e apreciar: Ramiro Pinheiro – Nasceu pra Navegar

Ramiro Pinheiro em primeiro plano e, ao fundo, Edi Barcelo. Nasceu pra Navegar.

Ramiro Pinheiro é um violonista brasileiro, radicado em Barcelona (Espanha) há 14 anos. Lá (ou aí, se você está na capital catalã, rá), tem sido músico presente em trabalhos com variados artistas, ajudando a movimentar a cidade.

Após trabalhar como violonista, como dito, em diversas frentes e diversas parcerias, ele lançou, recentemente, seu primeiro trabalho autoral: Sentido.

Recheado de parcerias tanto nas composições quanto na dinâmica encontrada com os (talentosíssimos) músicos que o acompanham, Ramiro traz, em seu disco, uma sonoridade bem puxada para uma espécie de amálgama entre samba e jazz. Se você já ouviu uma canção chamada Maricotinha (Dorival Caymmi), na versão em que ele o próprio autor canta com Tom Jobim, tá ligado no que to falando.

Destaco aqui a canção de trabalho Nasceu Pra Navegar, parceria de Ramiro com Guto Vilaverde e interpretada por Edi Barcelo. Olha, a música é um misto de construções técnicas que tocam bem no sentimento de quem gosta desse estilo. Dá uma sensação muito boa, enquanto música e com seus versos suaves, porém certeiros.

O instrumental faz a cama perfeita pra Edi deitar sua voz bem empostada e embalar a melodia. Particularmente, gosto muito de certas transições entre recursos usados pela harmonia, o violão tá vigoroso como nos melhores momentos da bossa de Baden Pawell, nos Afro-Sambas e a percussão não deixa a peteca cair também, movimentando o emocional conforme o que a música pede.

Enfim, pra quem gosta de curtir momentos de apreciação musical, ou mesmo, como fundo musical pra embalar resenhas e biricuticos, é um prato cheio. E não falei tanto pra não deixar o aperitivo. Curta aí:

(12) Ramiro Pinheiro | Nasceu Pra Navegar feat. Edi Barcelo – YouTube

Conheça o artista aqui: Ramiro Pinheiro – Brazilian Guitarist and Songwriter

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Rainha de Bateria, Preta de Comunidade

Quitéria Chagas: Elegância, consciência social e representatividade

Enquanto a pandemia ainda causa transtorno na nossa vidinha cotidiana, autoridades e personalidades decidem sobre o carnaval: Se vai ser adiado, cancelado, mantido, etc. Já que ainda não se tem uma decisão factível pra sabermos como agir e como reagir, vamos falar sobre o papel social do cargo de Rainha de Bateria, nas escolas de Samba. E porquê esse assunto agora? Bem, é sempre bom falar do papel social das coisas relacionadas ao Samba, sobretudo, porque foi pauta abordada nesta quarta (5), gancho mais que perfeito de matéria publicada no mesmo site (SRZD) há quase um mês.

 

Na reportagem de hoje, Quitéria Chagas (eterna rainha do meu glorioso Império Serrano) concedeu entrevista defendendo que o cargo deva ser ocupado por uma mulher negra, da comunidade. “Nós inspiramos muita gente”, afirma Quitéria, ao lembrar que o cargo atrai atenções e serve de espelho para as meninas da comunidade. Ela ressalta o valor de ser referência positiva para meninas que nascem e convivem com uma realidade de pouca ou nenhuma oportunidade na vida, sendo opção valiosa esse caminho pela arte, pela dança e outros fatores que agregam ser uma rainha de bateria, como o prestígio de estar à frente de um dos setores mais importante de todo carnaval – lugar, normalmente ocupado por membros da comunidade – e levam a imagem da agremiação como seu rosto, tanto quanto um intérprete ou um carnavalesco.

Evelyn Bastos: Força, talento e personalidade à frente da bateria da Mangueira

Nessa mesma batida de inspiração das mais novas pelo exemplo construtivo na arte e na proposta social, vem Evelyn Bastos. Num discurso mais direto, ela fala abertamente ser contra a venda do cargo, quando a escola se vale da teoria de que rainha de bateria celebridade atrai mídia e injeta recur$o$ na agremiação. A prova de que não é lá uma verdade absoluta é que tanto Quitéria quanto Evelyn e até outras, como Raissa, na Beija-Flor, souberam fazer seus nomes justamente ao ocuparem o cargo e não o contrário. Por mais que Quitéria já fosse bailarina, modelo e atriz, não foi esse o motivo de seu sucesso como rainha da Sinfônica do Samba, igualmente Evelyn e Raissa.

 

Evelyn ainda tem um trunfo, ela está à frente do projeto Sementes de Rainha, que comporta meninas de 6 a 16 anos e trabalha não só o samba no pé, como a formação social e cultural. Por exemplo, não adianta, pra ser rainha, apenas sambar e ter presença nas redes, tem que ir bem na escola também. Com base na realidade, de que a sociedade destila uma carga enorme de racismo e machismo em mulheres pretas, sobretudo, de comunidade, Evelyn oferece a chance de se combater o preconceito e discriminação pela dança, pela visibilidade e prestígio que ser rainha dá. Mesmo as meninas que passam da idade pra estar no projeto, são promovidas à ala de passistas da Mangueira.

Raissa, desde menina à frente da bateria da Beija-Flor, quando encantou o mundo do Samba justamente por ser cria da comunidade, da escola.

No mais, concordo com Quitéria e com Evelyn. Tem que ter mulher preta à frente da bateria sim e com essa base de preparação social. Uma relações públicas, como diz Quitéria sobre quem ocupa o cargo. Isso quer dizer que vou renegar uma celebridade que chegue com status ede benfeitora? Não. Às vezes, é o que a escola precisa, depois de uma fase de dificuldade. Mas aí, é papo pra outro dia essa conversa. Assim como eu defendo muita coisa cultural e ideologicamente, mas entendo que na prática, certos padrões acabam sendo mantidos. No geral, sempre defenderei que Escola de Samba é pro preto, pro sambista, pra costureira, pro pobre, enfim, pra comunidade que é o que sustenta tudo e quem fica junto de seu pavilhão pra sorrir e pra chorar.

 

Fontes:

Quitéria Chagas defende negras no posto de rainha de bateria: ‘Nós inspiramos muita gente’

Evelyn Bastos: ‘Comercialização do cargo de rainha mata o sonho das meninas’

Representatividade! Rainhas negras do Carnaval debatem importância do segmento

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