Crivella promete cortar verba das escolas de samba… Vai prestar?

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Prefeito Crivella está incisivamente minando investimentos em eventos culturais (falo pelo lado do Samba que é o que eu entendo e acompanho). Não quero pensar que é por ele ser um líder religioso dentro da religião dele que ele toma atitudes drásticas que deixam eventos festivos não-religiosos capengando. E o pior é que ainda usa argumentos demagógicos, por exemplo: O corte pela metade na verba distribuída às escolas de samba do grupo especial com o intuito de direcionar essa quantia para bancar o custo diário de crianças em creches particulares conveniadas com a prefeitura. E é sobre isso que eu quero falar.

 

Bem, de bancar evento cultural na rua eu entendo alguma coisa, pois faço parte de dois além das dúzias de pessoas que eu conheço que vivem essa realidade e muitos, diferente de mim, vivem efetivamente de música, de produção, fornecimento de estrutura e serviços relacionados, pois, você sabe, existe todo um universo em torno e que está correndo em areia fofa. Mas vamos falar sobre o universo específico do carnaval carioca. Bem, carnaval, aqui, não é só escola de samba, na verdade, é muito mais carnaval de rua, de salão, shows, enfim…

 

Esse tipo de festa movimenta milhões, bilhões de reais com a freqüência nativa (olha nós aê!) e muita, mas muita coisa mesmo vem de turistas. O turismo fatura muito para a prefeitura e esse é o principal argumento da LIESA (a liga das escolas de samba do grupo especial carioca) para tentar convencer o prefeito religioso conservador a reconsiderar sua decisão. Por outro lado, a conversa do Crivella é que investir na educação é mais relevante e eu já digo porquê acho essa história muito controversa.

 

Bem, baseado no que li, e no que papeei recentemente com amigos leigos, religiosos, músicos, educadores e admiradores tanto de investimentos em causas sociais quanto dee eventos culturais, juntei tudo com algo que eu já ensaiava em escrever e saiu a grande impressão de que o prefeito queria uma desculpa pra passar o cerol no carnaval e derivados. Sim, porque pra investir em educação, ele não falou em construir nada, nem creche, nem escola, nem em material para os que já existem, mas para custear crianças em creches particulares… oi?

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Como seria se o poder público ficasse bancando a iniciativa privada? O que sobraria para o poder público fazer? Será que ele pensa em abdicar dos investimentos no município pra dar uma ajudinha? Tipo, a terceirização voltou com uma maquiagem mais atual, meio que hoje não é rouge, é blush, mas faz a mesma coisa? Essa é uma linha de raciocínio minha, não ouvi ninguém falar isso e é uma espécie de paranóia aquariana minha.

 

O engraçado é que ele vai cortar metade da verba do carnaval pra bancar crianças em creches particulares. Ok! Muito evangélico e muito não-folião achou linda essa ideia e até já promete votar no prefeito na próxima eleição, afinal, quem não fica bem na foto com a política pública da propaganda ‘salvem as criancinha’? É lindo, até o Pelé já mandou esse papo, mesmo que não tenha sido homem pra reconhecer uma filha, nem os netos da falecida.

 

O problema é que se parar pra pensar, o que o carnaval arrecada com turismo é bem superior ao que Crivella promete cortar das escolas de samba. Um dia de desfile no sambódromo lucra muito mais do que o milhão que o político-bispo. Será que não seria mais jogo investir no carnaval e pegar desse retorno financeiro até mais dinheiro pra bancar as criancinhas em creches particulares?

 

Culturalmente, eu nem ligaria muito pra redução de subsídios ao carnaval de sambódromo, isso por questão ideológica. Há décadas que escolas viraram empresas apenas pra capitalizar a folia. O pobre continua pobre e as escolas não reinvestem nelas mesmas enquanto instituições culturais, pra dar uma bola na comunidade, serviço social, etc. Aliás, algumas até fazem sim, mas o foco é botar pena de faisão marciano no biquíni da subcelebridade que tiver mais dinheiro pra aparecer. Luxuoso demais, caro demais, samba de menos e o propósito das escolas já dançou faz tempo.

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Mas tem esse lado do dinheiro. Oras, se é dinheiro que importa, porque não investe 10, pra fazer 1000 em vez de cortar 5 da verba básica? Mesmo que as escolas façam desfiles menos luxuosos, acho que o carnaval ainda assim rende bastante e não há problema em usar isso pra investir em outros campos que precisem. Ou tá rolando uma falha grave de planejamento aí, ou uma nítida má fé com relação ao carnaval.

 

Em todo caso, seja lá o que for, às vezes é preciso deixar a coisa dar bem ruim pra que a opinião popular possa se posicionar e os governantes se mancarem. Por exemplo, muito músico vai encarar dificuldade de trabalho no setor do samba, sobretudo de rua, sendo que a vida de músico, da maioria, é dureza, é correria pra conseguir se sustentar, lucrar já é outra história.

 

Também tenho a opinião de que se as escolas realmente cumprirem de não desfilar, que se apresentem para suas comunidades. Vou adorar ver meu Império Serrano pelas ruas de Madureira, ou mesmo lá no Morro da Serrinha. Imagina o que a escola não ganha se colocar eventos regulares na quadra, na Casa do Jongo, ou na rua?

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Aguardemos cenas dos próximos capítulos. Eu acho que por agora é melhor nem debater muito, porque pode ter blefe aí, pode ter alguma negociação em breve e, no ruim de tudo, a coisa se confirmar, mas até lá, ainda falta uma penca de meses. Mas o camarada já mandou migué pra não ir ao sambódromo e iniciar o carnaval oficial entregando a chave da cidade para o Rei Momo, então, vamos ficar de olho. Quem sabe, daí, a megalomania do carnaval não volta a botar o pé no chão. Oremos.

Sobre Fernando Sagatiba

Sou Fernando Garcia, o Sagatiba. Carioca, sambista, músico e jornalista. Amante de cultura pop e manifestações culturais e a sociologia do mundo em que vivemos. E apaixonado por Madureira, sobretudo, meu glorioso Império Serrano.
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